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Poesia – Mauricio Almeida

 

Canção do menino nu
numa beira de rio de um menino nu
mijava
sonhava
tão só estava o menino nu
que só fazia
mijar
sonhar
numa beira de rio um menino nu
anjos d’água
corriam de medo do menino nu
mijando
sonhando
numa beira de rio um menino nu
sonhava o menino nu
no seu último dia de menino nu
mijava o menino nu
brincando de anzol
numa beira de rio um menino nu
meninos na outra margem do rio
gritavam
Manu tá pescando
mas o menino nu
só fazia
mijar
sonhar
numa beira de rio um menino nu
Sã loucura I
meu sitio é de loucuras
olhos voltados
palavras voltadas
para o âmago do meu ser
minha dor é silencio de vida
é hora de orgia nascente
é instante frio de gestos
sei que nuvens sobem
onde correm deuses
quero que os homens saibam
quanto custa um novo instante
Cochilo V
amiga
esqueces
que é como se fosse um recado
para quando eu tiver de me matar
lembrarás que avisei de modo estranho
Cochilo III
olho para todos
como se todos fossem animais temidos
sinto necessidade de mãos desconhecidas
vejo cores
faces repetidas no espelho
estarreço-me sempre nos tempos idos
entre os homens que sonharam com o futuro
talvez me tornarei fecundo
reflexo de outros
a sede já me corrói
sinto cochilos
reacordando sonhos
sou um sonhador ou sou enquanto não sou nada?

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