Rafael BarifouseDa BBC News Brasil em São Paulo
O Coronavírus indentificado na China em dezembro já chegou a outros 58 países — e esse número vem crescendo dia a dia, assim como o total de pessoas infectadas.
O Sars-CoV-2, como é chamado oficialmente o novo vírus, faz parte de uma família conhecida pelo menos desde meados dos anos 1960 e que circula em animais, especialmente em morcegos. Mas estes vírus têm uma grande capacidade de sofrer mutações e produzir novas variedades que infectam outras espécies, entre elas, seres humanos.
Um novo vírus como este é perigoso não apenas por não termos medicamentos ou vacinas para nos proteger, mas também porque nossas defesas naturais não estão preparadas para combatê-lo.
“Como não temos uma proteção natural, todas as pessoas estão suscetíveis a serem infectadas, e esse é um dos motivos pelos quais ele tem maior propensão de se espalhar”, diz o infectologista Estevão Portela, vice-diretor de serviços clínicos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas.
Essas defesas ficam a cargo do sistema imunológico, um conjunto complexo de células, tecidos, órgãos e moléculas que cumprem funções específicas em uma resposta coordenada para neutralizar vírus, bactérias, fungos e parasitas — antes que sejam fatais.
Diante de uma nova ameaça, o corpo tem de partir do zero e construir as defesas necessárias. Mas, no caso de um vírus, este processo costuma ser mais demorado do que a velocidade com que este tipo de microrganismo se multiplica e infecta células.
“É uma corrida, em que o adversário avança mais rápido do que o sistema imunológico é capaz de desenvolver mecanismos de ação para combatê-lo”, afirma o imunologista Renato Astray, pesquisador do Instituto Butantan.
Isso não significa, no entanto, que a batalha esteja perdida. O sistema imunológico encontra com o tempo formas de acabar com a ameaça, como vem ocorrendo nesta epidemia de coronavírus.
Mesmo sem um tratamento específico contra ele, sua capacidade de matar um paciente é baixa. Até o último domingo (1/3), segundo o boletim mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), tinham sido registradas cerca de 2,9 mil mortes entre mais de 87 mil infectados.
Os cálculos da taxa de mortalidade são complexos, principalmente em uma doença nova que continua avançando. Nesta reportagem, a BBC News Brasil explica como os cálculos são realizados.
Mais de 77 mil das pessoas afetadas já se recuperaram — o que significa que médicos conseguiram controlar os sintomas da doença causada por este vírus, a covid-19, por tempo suficiente até o próprio corpo conseguir elimina-lo.
Mas como se dá este processo? E há formas de fortalecer nosso sistema imunológico e reduzir as chances de ficarmos doentes?
Como funciona o sistema imunológico
O corpo tem barreiras para impedir a entrada de patógenos, como são chamados os microrganismos que afetam nossa saúde.
Elas podem ser mecânicas, como a pele, microbiológicas — por exemplo, a flora de bactérias do intestino —, ou químicas, como as enzimas presentes na saliva ou o suco gástrico do estômago.
Se um corpo estranho consegue superar estas barreiras, cabe ao sistema imunológico nos proteger.
Todas as pessoas nascem com defesas naturais contra invasores. Esta é a chamada resposta imunológica inata, que é acionada automaticamente quando células detectam que foram infectadas e enviam sinais químicos para avisar que o corpo está sob ataque.
Isso faz com que outras células acionem mecanismos para se tornarem menos suscetíveis à infecção e ativa o sistema imunológico, que vai pôr em ação células específicas para combater o invasor.
Estas células são fabricadas continuamente pela medula óssea, a partir de células-tronco, que estão em um estágio inicial de desenvolvimento e tem o potencial de se transformar, em um processo de diferenciação, para cumprir funções específicas.
Desta forma, as células-tronco se tornam leucócitos — ou glóbulos brancos —, que atuam em nosso sistema imunológico. Uma elevação na quantidade de leucócitos no exame de sangue é indício de uma infecção. Se estiver abaixo do normal, o sistema imunológico está enfraquecido.
Os neutrófilos são o tipo de leucócito mais numeroso e atuam como a primeira linha de defesa do organismo. Eles envolvem e eliminam o invasor por meio da fagocitose, produzindo enzimas digestivas que destroem o patógeno.
Também liberam sinais químicos que recrutam mais células para atacar a ameaça. Isso gera uma inflamação na região onde está o invasor. Esta área é irrigada com sangue, que traz consigo mais leucócitos para auxiliar no combate.
Outro tipo de glóbulo branco, o linfócito conhecido como natural killer (assassino natural, em inglês), age principalmente contra tumores e vírus. Ele libera grânulos de proteína ao redor do alvo que fazem o patógeno se autodestruir.
Um terceiro tipo de leucócito, o macrófago, também atua neste estágio fagocitando invasores, mas cumpre outra função importante no próximo estágio da resposta imune.