Disseminando o discurso conservador crescente que paira atualmente na sociedade brasileira, com práticas de intolerância à diversidade cultural, religiosa, étnica e de opção sexual, o Bispo da Diocese de Jequié, Dom José Ruy Gonçalves Lopes, entrou em um debate às cegas contra uma suposta “ideologia de gênero” que estaria contida no documento base do PME (Plano Municipal de Educação) elaborado democraticamente por diversos educadores e representantes da comunidade jequieense, em diversas reuniões e encontros abertos à população.
Corrente ideológica
Com uma formulação carregada de preconceito e autoritarismo, o religioso divulgou documento contestando o conteúdo do PME nesse aspecto assinalado e mais recentemente enviou um ofício para o presidente da Câmara de Vereadores, Eliezer Fiim, como documento Diocese de Jequié. No texto já divulgado em blogs da cidade, como o Jequié Repórter, no dia 16 deste mês de junho, o documento da igreja pede para o Legislativo ter uma posição contrária “à possível inserção no Plano nacional de Educação, da perniciosa e nefasta ideologia de gênero, como implementação de política educacional”. Segundo o texto, esta ideologia procura encobrir o fato de que os seres humanos se dividem em dois sexos. “Segundo essa corrente ideológica, as diferenças entre homem e mulher, além das evidentes implicações anatômicas não correspondem a uma natureza fixa, mas são resultado de uma construção social”, enfatiza. Com este pensamento, ele afirma que o “papel da educação deve ser o de fomentar o conhecimento da realidade não a sua desconstrução ou a neutralização das características psicológicas e biológicas dos meninos e das meninas”.
Posição conservadora
Esse descompasso da Igreja, assumido pelo Bispo, gerou muita polêmica e debates, com apoios e muitas contestações, inclusive nas mídias sociais, como o Facebook. Rita Rodrigues, ex-vereadora e integrante do Conselho Municipal de Saúde, por exemplo, informou nesta mídia que é uma pessoa Católica, mas que ficou “profundamente estarrecida, mas… Nenhum passo atrás diante de um posicionamento tão conservador e alienado como o desse Bispo. O que para ele se trata de uma “ideologia de gênero”, para nós trata-se de uma Questão de Liberdade, de Humanização”.
Diálogo e diversidade
Diante do fato, a APLB-Sindicato, já protocolou na sexta-feira, 18 de junho, um documento na Câmara de Vereadores com a explicação do teor da proposta do texto do PME que será votado no Legislativo, uma forma de evitar o retrocesso a partir do texto encaminhado por Dom Ruy. “Em um contexto marcado por profundas desigualdades sociais, de classe, de gênero, sexuais, étnicos-raciais, geracionais, e de pessoa com deficiência, a garantia de uma educação pautada na justiça social, que reconheça e dialogue com a diversidade ampliando a noção de inclusão e igualdade social é necessária”, pontua a APLB Delegacia do Sol, entidade que representa os trabalhadores em educação.
Carta Aberta
Na mesma linha de protesto contra o documento do Bispo, a ONG LBGTSol e o Órgão de Educação e Relações Étnicas – ODEERE, com forte presença na UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), assinaram e divulgaram uma Carta Aberta à Comunidade Jequieense e aos Vereadores na qual se posicionam “favoravelmente à permanência das questões de gênero e também de orientação sexual nos propósitos do PME. Primeiramente, afirmamos que não existe ‘ideologia’, conforme mencionado, já que não se deseja impor pensamentos, ‘conscientizar’ as pessoas ou muito menos normatizar ou uniformizar os estudantes”. Na mesma Carta, as entidades lembram que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica publicadas em 2013 em seu artigo 43 e parágrafo 3: “A missão da unidade escolar, o papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia e diversidade cultural que compõem as ações educativas, a organização e a gestão curricular são componentes integrantes do projeto político-pedagógico”. Afirmam, ainda, que a Constituição Brasileira de 1988, a lei maior, diz em seu artigo 3°, inciso IV, que constitui objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Respeito à diversidade
Outras organizações sociais de Jequié, como o Conselho Popular, a UBM, a UNEJE, a CTB e da juventude elaboram um documento para ser encaminhado aos vereadores para desmitificar a posição do Bispo e da Igreja. Estas entidades do movimento social defendem uma educação laica, democrática, de qualidade e com respeito à diversidade, ao gênero e contra toda forma de preconceito.
Debate e votação
Como a sessão da Câmara de Vereadores foi adiada para a próxima segunda-feira, dia 22, já há uma mobilização do movimento social afim de acompanhar o debate e votação do PME na Casa de Leis. Como são legisladores, espera-se que os edis respeitem os princípios democráticos da Constituição e os preceitos das leis maiores que regem a Educação do País. Jequié faz parte do Brasil.
Texto do site Gicul, veja matéria original neste link.