Durante os 12 dias de greve da polícia militar na Bahia, 45 dos 187 assassinatos registrados até esta segunda, 13, pela polícia na Grande Salvador têm características de extermínio, informou o delegado Arthur Gallas, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
São crimes em que as vítimas foram algemadas ou amarradas, e atingidas na cabeça por assassinos encapuzados que chegaram ao local do crime em carros com placas clonadas, armados com munição de grosso calibre. O delegado suspeita de que “25 a 30” destes casos tenham a participação de militares.
Segundo Gallas, as ações são características de seguranças clandestinos bancados por comerciantes de bairros populares. “São suposições, já que se eu tivesse o número preciso das ocorrências os casos já estariam elucidados. É uma conjectura com base na análise dos fatos e do modus operandi dos crimes”, explicou.
Até agora, apenas cinco (os moradores de rua mortos na Boca do Rio) dos assassinatos ocorridos durante a paralisação foram solucionados. “Tivemos que analisar e separar o que foi ocasionado em decorrência da greve e aqueles que foram praticados independentemente dela. A ligação com os grevistas está em investigação, ainda não temos essa ligação”, afirmou o secretário de segurança pública Maurício Barbosa.
Questionado se os casos de extermínio apontam para a existência de grupos criminosos organizados, como milícias, o secretário disse que “tudo agora é especulação. Se há temos que investigar”.
Estrutura – Diante de um índice de resolução de homicídios entre 20% a 25% na Bahia, Salvador passou a contar com a Delegacia de Homicídios Múltiplos, responsável, sobretudo, pelas investigações de casos de extermínio, segundo Gallas.
Criada no final do ano passado , a unidade possui dois delegados e três equipes de investigadores. “Em dezembro, o governador publicou a lei criando a unidade. A gente está estruturando. Esperamos que, em 2012, consigamos incrementar mais esta estrutura”, acrescentou.
Os crimes de extermínio, praticados sobretudo por policiais, começaram a ser apurados em 2004 pelo Grupo Especial de Repressão a Crimes de Extermínio (Gerce). Mas, isolado pela SSP, ele acabou extinto quatro anos depois. O Gerce chegou a emitir 313 mandados de prisão, inclusive contra PMs.
Corregedoria – Em meio ao cenário de suspeita do envolvimento de militares com execuções, o governador Jaques Wagner admitiu que a Corregedoria da Polícia Militar é uma estrutura defasada. “Preciso fortalecer minha Corregedoria para separar os bons policiais dos maus”, disse. “Talvez isso seja um dos elementos que leva as pessoas a achar que podem fazer qualquer coisa”, acrescentou o governador. “São Paulo, todo mundo sabe, tem uma Corregedoria duríssima. Eles têm um salário menor e não fizeram paralisação. Então, ou tenho algo para controlar, ou não resolve. Temos de melhorar a gestão.”
Quanto à imagem da Bahia após a greve, Wagner disse: “A imagem continua de uma gente hospitaleira, pacífica, que recebe bem, onde todo mundo se sente em casa. É bom lembrar que têm muitos turistas aqui. As pessoas sabem que [o ocorrido] é uma coisa pontual. Não dá para desconhecer que perturba. Mas não [devemos] generalizar e banalizar”.
A Tarde