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A dieta da poupança

A trajetória de queda na taxa básica de juro, antes mesmo de exibir os resultados positivos esperados sobre a atividade econômica, deixou o governo diante de um problema sério. À medida que a Selic se aproxima de um dígito, a rentabilidade da poupança ultrapassa a dos fundos de renda fixa, atrelados aos títulos públicos. Uma migração em massa limitaria a capacidade de rolagem da dívida estatal. A solução é menos simples do que parece. Só que a saída óbvia, reduzir os ganhos oferecidos aos poupadores, remete a uma pergunta incômoda. Como mexer nos rendimentos de uma aplicação criada há 148 anos, que, ao menos em tese, protege da inflação as economias de mais de 81 milhões de brasileiros e garante os financiamentos do setor habitacional?

O governo deu sinais de que as mudanças na caderneta de poupança estão a caminho. O presidente Lula cogitou a hipótese de alterar a rentabilidade de acordo com o tamanho do investimento. Uma alternativa seria criar uma contribuição para desestimular a manutenção de quantias elevadas por pouco tempo na conta. Números da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) mostram que quase 90% das cadernetas têm depósitos de até 5 mil reais. Valores acima de 30 mil estão nas mãos de apenas 2% dos depositantes. “Precisamos proteger os poupadores, mas não podemos permitir que pessoas que tenham muito dinheiro apliquem tudo na poupança”, disse Lula recentemente.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é o encarregado de anunciar as mudanças. Até agora, limitou-se a tentar conter as especulações, dando a entender que o pequeno poupador não terá os ganhos reduzidos. “A caderneta foi feita para proteger o pequeno investidor. Aquele que tem lá 2 mil, 3 mil, 4 mil, 5 mil, 10 mil, 15 mil reais. Esses serão absolutamente resguardados e protegidos. Tem de haver uma adaptação. O governo está trabalhando nisso e ainda não temos uma posição definitiva”, afirmou.

Enquanto o governo não decide que rumo vai tomar, crescem não só os boatos, mas também o problema. Em março, os fundos de renda fixa perderam mais de 500 milhões de reais líquidos em aplicações, segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Embora em janeiro e fevereiro as captações líquidas (aplicações menos saques) tenham fechado no azul, o resultado acumulado nos últimos doze meses indica que mais de 72 bilhões de reais deixaram essa modalidade no período. O patrimônio líquido da renda fixa caiu de 367 bilhões de reais, em abril de 2008, para 347 bilhões de reais no mesmo mês deste ano.

Texto extraído do site da revista Carta Capital

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