“Política é como nuvem. Você olha e ela esta de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”, ensinava o ex-governador Magalhães Pinto, raposa mineira da UDN, também banqueiro e líder paisano do golpe militar de 1964. A escolha do candidato presidencial tucano em 2010, anteontem, anunciava uma feroz luta interna; ontem, dava a impressão de que José Serra estaria triturando Aécio Neves; mas hoje emite sinais encorajando o mineiro…
Por Bernardo Joffily
Aécio (e.) e Serra, em evento no Recife Uma nuvem carregada no cenário sucessório era o câncer que acometeu Dilma Rousseff (PT), candidata do presidente Lula. Mas ao que dizem os médicos dissipou-se, deixando até, como saldo, uma imagem mais humana e emotiva da ministra, que continua a subir nas pesquisas.
A nuvem da crise econômica permanece, nos céus do mundo e do Brasil. Mas não parece capaz de fulminar os planos de Lula, como chegaram a sonhar os seus adversários. Nesta segunda-feira (13), anunciou-se que a demanda por crédito subiu em junho pelo quarto mês consecutivo, aproximando-se do cenário pré-crise e puxada pelos brasileiros de baixa renda.
Sinais de possível revisão de planos
Como as nuvens da política não só se modificam mas também se intercomunicam incessantemente, essas metamorfoses foram rebater no quartel-general do governador de São Paulo e presidenciável tucano. Há sinais de que, depois de ter dobrado seu rival Aécio, antes mesmo de baterem chama nas prévias do PSDB anunciadas para fevereiro, Serra pode estar revendo seus planos para 2010.
“O quadro continua favorável a Aécio, com José Serra pensando em disputar o governo de São Paulo, bem avaliado que está e preocupado com o crescimento de Dilma nas pesquisas”, diz o jornalista Luís Carlos Bernardes na sua coluna de hoje em O Tempo, um dos poucos jornais mineiros rebeldes à cooptação por Aécio.
Em outro quadrante, Ricardo Noblat, em seu blog no Globo Online, confirma que há algo no ar além dos aviões de carreira, provavelmente uma nuvem magalhaniana em mutação. O blog reproduz o “raciocínio esperto” de um “amigo”:
“Há mais de 20 anos que São Paulo vota preferencialmente no PSDB. Ou contra o PT se preferir.
Em 2002 e 2006, Lula teve votações expressivas em Minas Gerais.
Se Aécio Neves for candidato a presidente, terá os votos de São Paulo. E os de Minas, fechada com ele segundo todas as pesquisas.
Se o candidato for José Serra, São Paulo votará fechado com ele, mas Minas não. A não ser que Aécio ceda aos apelos e aceite ser vice de Serra.
Então?
Então Aécio é melhor candidato do que Serra, que se reelegeria facilmente governador de São Paulo.
Aécio não pode ser candidato à reeleição. Pode disputar uma vaga no Senado. Logo onde: na Casa dos Escândalos.”
O amigo de Noblat, cuja filiação partidária se adivinha nas entrelinhas, parece a um passo de entrar em campanha. No palanque Aécio presidente-Serra governador.
Cenários na retaguarda paulista
Se Serra disputasse a Presidência, o bloco demo-tucano lançaria em São Paulo um de três nomes: o ex-governador Geraldo Alckmin, com forte recall, mas relações estremecidas com o atual governador; ou o secretário Aloísio Nunes Ferreira, que, ao contrário, é fiel mas ainda não mostrou ser bom de voto; ou ainda o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, que corre por fora, contrariando uma promessa de sua campanha em 2008.
Com Dilma curade e subindo nas pesquisas, o atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes – o segundo mais poderoso depois do Planalto – indaga-se se vale a pena trocar o (ao que dizem) certo pelo duvidoso: deixar o Bandeirantes para um desafeto, ou um adversário, e disputar o Planalto com uma Dilma em ascenso.
Se tudo der certo, o vencedor leva as batatas, como sentenciaria Quincas Borba. Mas, e se der errado? Ser vencido na eleição presidecial já seria ruim; mas perder também a retaguarda paulista configuraria um desastre.
A nuvem de Ciro
Em outra interconexão das nuvens da política, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) acompanha as mutações nos cumulus pré-2010 para escolher o seu projeto: disputar a Presidência, ser vice na chapa de Dilma ou concorrer ao governo paulista.
Com Serra presidenciável, o papel nacional de Ciro em São Paulo cresceria. Ele seria como um comandante guerrilheiro a incursionar por trás das linhas do inimigo, tirando-lhe a paz, e o máximo de votos. Com o governador buscando a reeleição, a menor influência nacional seria compensada pela satisfação de enfrentar diretamente Serra, com quem tem antigas contas por ajustar.
Extraído do Vermelho