Na esteira da saída do ministro Antonio Palocci (Casa Civil), a presidente Dilma Rousseff também irá substituir o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais). Embora a função seja fazer a articulação com o Congresso, era Palocci o principal interlocutor do governo com os parlamentares. Na Casa Civil, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), 45, aceitou o convite do governo e irá substituir Palocci. Em entrevista coletiva em Brasília, Gleisi disse que assumirá o cargo nesta quarta-feira, mas antes deve fazer um pronunciamento no Senado.
“A presidente Dilma quer um funcionamento da Casa Civil na área de gestão, de acompanhamento de projetos e processos, conhecimento da equipe de transição. Trabalhamos em vários projetos quando eu era diretora de Itaipu e ela ministra de Minas e Energia. Ela disse que meu perfil se adequa ao que ela quer agora na Casa Civil, uma ação de gestão e é a isso que estou comprometida”, disse a senadora. O governo Dilma Rousseff enfrenta críticas de aliados e da oposição em relação a articulação política. Gleise não quis comentar como ficará a negociação com o Congresso, que vinha sendo assumida por seu antecessor na Casa Civil, Antonio Palocci, que perdeu força desde que a Folha revelou em maio que ele multiplicou por 20 seu patrimônio. Mulher do ministro Paulo Bernardo (Comunicações), Gleisi foi eleita para o Senado pela primeira vez no ano passado. Filiada ao PT desde 1989, a futura ministra da Casa Civil foi secretária de Estado no Mato Grosso do Sul na gestão de Zeca do PT e secretária de Gestão Pública da Prefeitura de Londrina. Em 2002, compôs a equipe de transição de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, onde seria nomeada a diretora financeira da Itaipu Binacional. Ali permaneceu até início de 2006, ano em que disputaria seu primeiro cargo eletivo. Na disputa por uma vaga ao Senado Federal, não conseguiu se eleger. Tornou-se presidente do PT no Paraná e, em 2008, candidatou-se à prefeitura de sua cidade natal, Curitiba, mas obteve o segundo lugar, com 18,17% do votos. Em 2010, disputou novamente o cargo de senadora, elegendo-se como a mais votada em seu Estado, juntamente de Roberto Requião (PMDB).
CRISE
A crise que levou à saída de Palocci teve início no dia 15 de maio, após a Folha revelar que o ministro multiplicou seu patrimônio por 20 entre 2006 e 2010. A Projeto, empresa aberta por ele em 2006 –quando o ministro afirmou ter patrimônio de R$ 356 mil– comprou, em 2009 e 2010, imóveis em região nobre de São Paulo no valor total de R$ 7,5 milhões. A Folha também mostrou que o faturamento da empresa foi de R$ 20 milhões em 2010, quando ele era deputado federal e atuou como principal coordenador da campanha de Dilma à Presidência da República. Em entrevista exclusiva à Folha, Palocci afirmou que não revelou sua lista de clientes a Dilma, atribuiu as acusações a ele a uma “luta política” e disse que ninguém provou qualquer irregularidade na sua atuação com a consultoria Projeto. Em nenhum momento o agora ex-ministro revelou a lista de clientes de sua consultoria e alegou “cláusula de confidencialidade” para não divulgar para quem ele trabalhou enquanto exerceu simultaneamente as funções de deputado e consultor.
PROCURADORIA
Instado a se manifestar sobre o caso pela oposição, que apresentou denúncia contra Palocci, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, decidiu arquivar todas as representações que pediam abertura de inquérito relacionadas ao fato de o patrimônio do ministro ter aumentado pelo menos 20 vezes de 2006 para 2010. Ele entendeu que não existem indícios concretos da prática de crime nem justa causa para investigar o caso. Em um documento de 37 páginas, Gurgel afirmou que a legislação penal “não tipifica como crime a incompatibilidade entre o patrimônio e a renda declarada”. Segundo o procurador, os partidos de oposição que propuseram as representações não apresentaram documentos que demonstrem a prática de crime. Fonte: A Folha