Em linha com as previsões do mercado, que nos últimos dias pressionava para uma elevação ainda maior, o fato não causou surpresas. Mas despertou frustração e críticas nos movimentos sociais, representantes da indústria nacional e organizações progressistas.
A justificativa para a medida é o combate à inflação. “O Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,25% ao ano, sem viés, dando início a um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas.” Foi o que argumentou o órgão, num breve comunicado. Mas isto não convence os críticos dos juros altos, que consideram tal justificativa um pretexto que encobre outros interesses, certamente menos nobres, associados ao sistema financeiro.
Política conservadora
Predomina a impressão de que a troca de guarda na direção do Banco Central, com a substituição de Meirelles por Tombini, em nada alterou o caráter conservador da política monetária. A decisão vai custar bilhões de reais aos cofres públicos ao longo do ano e está obviamente associada ao ajuste fiscal cogitado pelo governo, com o corte de gastos e investimentos públicos.
O resultado geral é a desaceleração da economia, feita a pretexto de combater a inflação, e um aumento da escandalosa transferência de renda da sociedade à oligarquia financeira, que hoje se apropria de bem mais que um terço do orçamento público, riqueza transferida generosamente pelo Estado aos credores da dívida interna, em detrimento do desenvolvimento nacional.
Sabe-se que juros mais altos também têm efeitos negativos sobre o câmbio, uma vez que atraem mais capital especulativo para o país (em busca de lucros fáceis explorando a diferença de juros do Brasil com os EUA e outros países) e constituem, nas condições atuais, uma das mais relevantes causas da valorização do real, que estimula a desindustrialização.
Centrais e Fiesp
“Esse aumento nos preocupa bastante, pois confirma um mau início de governo que teve todo o nosso apoio para sua eleição, mas que se mostra, em suas primeiras decisões, destoante em relação às demandas da classe trabalhadora e do povo brasileiro”, afirmou Wagner Gomes, presidente da CTB, ao tomar conhecimento da decisão do Banco Central.
“É incrível, mas parece que o governo que se inicia quer implantar a agenda econômica que foi derrotada nas últimas eleições por privilegiar o capital especulativo. Lamentamos profundamente que a produção, o crescimento e a geração de empregos sejam os grandes perdedores com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária)”, diz a Força Sindical em nota assinada pelo seu presidente, Paulo Pereira da Silva.
A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) citou alguns números. “Com decisões como essa, em 2011 o governo federal vai gastar R$ 200 bilhões de juros. Para a Saúde teremos apenas R$ 72 bilhões, para Educação teremos R$ 60 bilhões. A Fiesp alerta que cada meio ponto percentual a mais na taxa Selic representa despesa pública anual adicional de R$ 9 bilhões”.
Nada a ver com inflação
“O Brasil não pode mais ser penalizado com o crescente aumento da taxa de juros. Isso é um absurdo. Com esse dinheiro poderíamos viabilizar a construção de mais 390 mil casas do Programa Minha Casa Minha Vida, ou custear 2/3 do Programa Bolsa Família no ano inteiro de 2011. Alternativamente, daria para o Sistema de Saúde realizar 14 mil internações adicionais”, afirmou Paulo Skaf, presidente da Fiesp e do Ciesp.
A entidade empresarial também contestou a tese de que a decisão do Copom é inevitável para conter o processo inflacionário. “Se considerarmos os itens que afetaram a taxa de inflação: alimentação, despesas pessoais e serviços, percebemos que sua relação com a taxa Selic é quase nula. A taxa de juros afetará todos os setores e não apenas os de alta inflação”.
“O Banco Central do Brasil além de cuidar da moeda deveria se preocupar também com o emprego e crescimento econômico, que serão penalizados por esta decisão de aumento dos juros”, concluiu Skaf.
Leia abaixo as notas divulgadas pela CTB e Força Sindical
Nota da CTB
A CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) manifesta sua posição contrária em relação ao aumento da taxa de juros divulgado nesta mesma data pelo Banco Central. A alegação de que essa impopular medida seria necessária para conter a inflação não passa de mera cantilena, advinda dos poderosos setores da sociedade interessados na manutenção da maior taxa de juros real do mundo.
É frustrante que o mandato da presidente Dilma Rousseff se inicie com tal decisão. A CTB entende que o novo governo poderia ter sinalizado o início de uma nova era para o país, na qual a orientação monetária do Banco Central pudesse ter um rumo mais ousado – diferente daquele comandado por Henrique Meirelles durante oito anos.
A presidente Dilma Rousseff certamente tem conhecimento de que a decisão de aumentar a taxa Selic para 11,25% ao ano significa um retrocesso para o país. Tal medida reflete no crescimento, no desenvolvimento e nos investimentos necessários para que o governo coloque em prática seu principal compromisso: a erradicação da miséria.
A CTB espera que o novo governo decida enfrentar, o quanto antes, o conservadorismo da política financeira que ainda vigora no Brasil. É preciso que a presidente Dilma Rousseff chame para si essa responsabilidade e proponha um novo rumo para a política monetário do país, de modo que o desenvolvimento econômico e social da nação se torne de fato uma realidade, em consonância à expectativa criada por aqueles que a elegeram.
Wagner Gomes
Presidente nacional da CTB