Em sua mais longa entrevista a um correspondente internacional, a presidente eleita, Dilma Rousseff, garantiu que pretende fazer um governo diferente do atual. Na opinião da candidata eleita para governar o Brasil até 2014, os tempos são outros e exigem soluções diferentes daquelas aplicadas ao longo do mandato de seu padrinho político.
Em conversa com a jornalista Lally Weymouth, editora-sênior do diário norte-americano The Washington Post, Dilma abordou assuntos relativos à política externa do país e pontos econômicos relevantes.
“Acredito que minha administração será diferente desta do presidente Lula. A administração do presidente Lula, da qual eu fiz parte, construiu uma base a partir da qual avançaremos. Não repetirei a atual gestão porque a situação do país, hoje, é muito diferente daquela (que encontramos) em 2002. Meus desafios hoje são diferentes. Tenho que resolver questões como a qualidade do atendimento em saúde no Brasil e pretendo criar soluções para a questão da segurança pública. O Brasil passou 30 anos sem investimentos suficientes em infraestrutura. A gestão do presidente Lula iniciou um período de mudanças, mas precisamos resolver ainda questões como a das rodovidas, das estradas de ferro, das autopistas, portos e aeroportos. Mas a boa nova é que descobrimos petróleo em águas profundas (na costa brasileira)”, disse a presidente eleita.
Perguntada se os recursos obtidos com a descoberta de petróleo na camada pré-sal seguiriam também para a área de infraestrutura, Dilma afirmou, no entanto, que essa verba já tem destino certo.
“Criamos um Fundo Social para que os recursos governamentais obtidos com a descoberta de petróleo sejam investidos em educação, saúde, ciência e tecnologia”, afirmou.
Para a nova presidente, seu governo deverá conseguir o fim da pobreza absoluta no Brasil
“Nós ainda temos 14 mlhões de pobres. Este é o meu maior desafio”.
Política externa
Ainda na entrevista, Dilma revelou que não concorda com a abstenção do Brasil em votação na ONU da resolução que condena violações de direitos humanos no Irã. A mensagem aprovada cita preocupação com casos de tortura, alta incidência de penas de morte, violência contra mulheres e perseguição a minorias étnicas e religiosas. Ao todo, foram 80 votos a favor da resolução da ONU, 44 contra e 57 abstenções. Além do Brasil, também se abstiveram a Índia, a África do Sul e o Egito.
“Minha posição não mudará quando eu assumir o cargo. Não concordo com a forma como o Brasil votou. Não é a minha posição. Não sou a presidente do Brasil (ainda), mas me sentiria desconfortável, como uma mulher eleita presidente, em não dizer nada contra o apedrejamento”, disse.
O possível apedrejamento da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte por supostamente ter cometido adultério, mobiliza a opinião pública mundial.
“Eu não concordo com práticas que tenham características medievais (no que diz respeito) às mulheres. Não há nuances. Não farei nenhuma concessão nesse assunto”, afirmou a presidente.
Dilma, no entanto, defendeu a atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto à questão iraniana e garantiu que ele sempre atuou em prol dos direitos humanos.
“Lula tem o seu próprio histórico. Ele é um presidente que advogou pelos direitos humanos, um presidente que sempre advogou pela construção da paz”, afirmou.
Questões econômicas
A presidente eleita, sobre a economia do país, afirmou que pretende diminuir o déficit público e reduzir a relação dívida/PIB para 30%, hoje na casa dos 42%.
“Preciso racionalizar o gasto e, ao mesmo tempo, ter um crescimento do PIB que leve o país adiante”, acrescentou.
Questionada sobre o que seria “racionalizar os gastos”, adiantou: “Não temos que cortar gastos do governo. Vamos cortar despesas, mas continuar a crescer”.
fonte: vermelho.org.br