O documentário “Perdão, Mister Fiel”, de Jorge de Oliveira e co-direção de Pedro Zoca, causou polêmica na noite de quinta-feira (19), no 42o. Festival de Brasília. O longa-metragem brasiliense que concorre na mostra competitiva reconstitui,
por meio de encenações dramáticas e depoimentos, a morte do operário Manoel Fiel Filho em setembro de 1976, nos porões do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo.O assassinato de Fiel Filho pelos agentes da repressão deflagrou a mudança de comando do Segundo Exército pelo presidente Geisel e iniciou o processo, lento e gradual, que levaria à redemocratização do país. Por várias vezes, alguns dos personagens que dão depoimento no filme foram vaiados, como os ex-presidentes José sarney e Fernando Henrique Cardoso, além do ex-ministro Jarbas Passarinho.
O filme foi exibido na segunda noite da mostra competitiva do festival, com a presença da viúva de Fiel, Tereza Fiel, e do neto dela, Tadeu, além do presidente do PPS, Roberto Freire. E, embora muito comentado e aplaudido, não teve a repercussão positiva que se esperava. As porções ficcionais, que cuidavam de reconstituir a rotina de Fiel Filho, a prisão por agentes do DOI-Codi, a tortura e a morte acidental do operário, são mal concebidas, pessimamente encenadas e não cumprem a função de aliviar o espectador do vai-e-vem de uma enxurrada de entrevistas.
Falam no filme os ex-presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, o presidente Lula, o ex-ministro Jarbas Passarinho e vários políticos e ex-militantes de esquerda que foram presos e torturados, como o prório Roberto Freire, o jornalista Paulo Markun e vários outros. Sarney, Fernando Henrique e Passarinho foram vaiados logo que apareceram na tela.
O melhor depoimento, no entanto, é o do ex-sargento Marival Chaves, ex-agente e analista do DOI-Codi na ditadura militar. Chaves, que já havia sido entrevistado pelo jornalista Expedito Filho para a revista semanal “IstoÉ”, dá novas informações sobre Fiel Filho e como funcionava a máquina repressora do Estado sob o governo do general Ernesto Geisel. Ele dá nomes dos responsáveis pelas operações “semi-legais” e clandestinas do órgão de repressão e fala sobre desaparecidos famosos, como o político Rubens Paiva, pai do jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva, cujo corpo teria sido esquartejado e jogado em um rio.
Segundo a produtora Ana Maria Rocha, foram necessários dois anos de contatos e negociações para que Marival Chaves aceitasse dar um depoimento. E quando finalmente o personagem resolveu falar, o filme já estava editado. “Mandamos uma equipe até o Espírito Santo, onde ele mora, e ele falou por duas horas ininterruptas”, disse ela, durante o debate desta sexta (20). “Nós tínhamos que ter o outro lado, e ele acabou fazendo essa função. Até tirei um pouco do Jarbas Passarinho. No fim, o Marival acabou pontuando o filme. Apesar de tudo, ele foi muito corajoso de se expor dessa maneira.”
Fonte: UOL